Quando se compilam os resultados das quatro edições do Ranking Cúpula da Cachaça, alguns rótulos se destacam por estarem sempre bem posicionados, o que indica tanto a manutenção da qualidade quanto da posição de destaque no mercado. Um exemplo é a Cachaça Magnífica Reserva Soleira.
Por Dirley Fernandes
Uma das top de linha da marca de Vassouras-RJ (ou de Miguel Pereira, se preferir; a fazenda é grande), a Magnífica Reserva Soleira foi vice-campeã da primeira edição, em 2014, quando não havia divisão de categorias.
Em 2016, mais modestamente, foi apenas a 15ª melhor cachaça do ano – entre mais de mil cachaça votadas pelo público.
Em 2018, repetiu o vice-campeonato, desta vez na categoria Ouro.
No ano passado, ficou na sexta colocação na categoria Premium/ Extra Premium.
Portanto, senhoras e senhores, é óbvio que falamos de uma cachaça excepcional – daquelas que fazem você abrir a garrafa, despejar o líquido na taça e passear pela casa sentido os aromas e agradecendo a benção recebida. Foi o que fiz essa tarde. 🙂
Mas vamos por partes, começando pela garrafa: é linda e ainda vem em uma caixa de metal em tom azul e dourado, com o bom gosto característico da marca.
São cuidados necessários a uma cachaça que traduz para um produto brasileiro o conceito de destilado extra premium.
O rótulo, de cuidadoso design, estampa as montanhas do Estado do Rio, de onde a cachaça é egressa. Outrora, a marca – que tem mais de 35 anos de história – estampava o Pão de Açúcar, mas foi obrigada pela fiscalização federal a mudar. O servidor achou que alguém pensaria que a cachaça é destilada no bondinho.
Ainda antes de abrir a garrafa, há sempre a satisfação de ver um 43% no rótulo, mostrando uma cachaça relativamente generosa no teor alcoólico, como preferimos por aqui. Também é bacana a indicação de safra. A Magnífica Reserva Soleira que abri foi engarrafada em 2018.
Agora, atentem: tendo sido engarrafada na data indicada, haverá na composição do meu exemplar cachaças que terão sido destiladas em 2013, talvez também algo da safra de 2011… um tanto de 2009. E por ai afora.
Para explicar, falemos do método Soleira, que batiza a cachaça, é comum no mundo dos vinhos e foi trazido ao Brasil por João Luiz de Faria, o fundador da Magnífica.
Funciona assim: João organizou os barris de carvalho para envelhecimento em fileiras, de alto a baixo.
No primeiro momento, os barris da fila de cima foram preenchidos com cachaça nova. Após um tempo, uma parte dessa cachaça, mas não toda, passou para a fila de baixo e os barris foram preenchidos com mais cachaça nova.
Algum tempo depois, a terceira fileira recebeu cachaça da segunda; a segunda, da primeira, a qual, por sua vez, voltou a ser completada com cachaça branca. Isso se repetiu até a sétima fileira, a mais próxima do solo – a soleira. Ali, havia cachaça de várias idades, formando uma espécie de blend. Esse blend foi para o envase e assim nasceu a Cachaça Reserva Magnífica Soleira.
Ali pelo início de maio próximo, mais uma vez, metade da cachaça que hoje está nos barris da fileira de baixo vai para o envase. E assim será engarrafada mais uma edição – composta por 4 mil garrafas – dessa maravilha destilada.
Magnífica Reserva Soleira: complexidade
Dizia eu que o aroma faz você levantar da cadeira quando o líquido acobreado preenche a taça e as lágrimas escorrem doce e lentamente pelo cristal.
E faz!
É mais que promessa de felicidade, porque já é a felicidade em si. Melado, fruta madura, toffee… os aromas se fundem na complexidade do buquê, deixando espaço para ares de erva cidreira ou capim santo. E assim temos uma cachaça que consegue fundir aromas frescos e solenes, com equilíbrio e personalidade.
Na boca, é cachaça fácil de beber, mas nada óbvia. Há ao mesmo tempo, um certo ar de barrica velha, de armazéns úmidos em subsolos – como os do Amontillado de Poe. E no entanto, a sensação é de refrescância.
Moderadamente doce, recendendo a caramelo, cereja e abacaxi, a Reserva Magnífica Soleira tem corpo médio e guarda alguma adstringência.
E há o final! Ah, o final! Um final quente, com punch, em que se junta uma percepção de doçura, uma leve tosta e uma sensação de cachaça tradicional, muito agradável para os apreciadores da identidade cachaceira, aqueles temerosos da macdonaldização do nosso destilado.
Não é um “carvalhão” clássico, em que a baunilha grita no palato. E isso é, no caso, como na maioria das vezes, uma virtude. É, sobretudo, bebida que logra êxito na tarefa de revelar sinais de longo envelhecimento e frescores de cachaça mais nova.
Recomendamos muito, é claro. Mas é de bom alvitre avisar: como é inevitável em um produto de produção tão trabalhosa, o preço não é baixo. No Cachaça Express, a Reserva Magnífica Soleira sai por R$ 318. Mas, se a comparação for com destilados desse nível de outras categorias – single malts, por exemplo –, é bem razoável.
De resto, como diz minha mãe, “mais vale um gosto do que um tostão no bolso”.
Saravá!
Fonte: https://xn--devotosdacachaa-rmb.com.br/2021/03/17/magnifica-reserva-soleira-qualidade-a-prova-do-tempo/